Luís Perequê e o Defeso Cultural Caiçara

Foto: Walter Firmo/ Vivência Caiçara – Centro Cultural Sesc Paraty

Nessas andanças pelo litoral de São Paulo e Rio de Janeiro, aos poucos estou conhecendo mais povo e a cultura caiçara. Quando eu sabia pouco ou quase nada sobre do que se tratava também me faltava a consciência de que essa população fazia muito mais do que viver perto do mar. Além das belas paisagens (principalmente da Costa Verde entre Rio-SP), a cultura e os festejos dessa região possuem característica peculiares ligadas aos costumes religiosos, culinários e cotidianos cheios de encanto e diversidade. No caminho dessas viagens tive o privilégio e a sorte de encontrar (ou reencontrar) o músico Luís Perequê. Eu já conhecia seu trabalho mesmo antes de chegar pra essas bandas, mas ao conhecê-lo pessoalmente e saber mais sobre seus manifestos e ações culturais, achei necessário compartilhar essa conversa aqui no blog.

Ele é nascido em Paraty, cidade cheia de belezas naturais que infelizmente vive hoje sob a maquiagem do turismo cultural de luxo que deixa as comunidades caiçara à margem de todo o glamour de um centro histórico fotogênico. Perequê começou um trabalho chamado “Defeso Cultural” com o objetivo de lutar pela promoção e resgate das culturas tradicionais de sua região. Sua inspiração também está fundamentada na necessidade de mostrar ao povo caiçara quão rica e diversa são as manifestações produzidas por eles, bem como a importância de guardar tais tradições. Segue um trecho dessa conversa transcrita e logo abaixo uma música que canta e encanta o dia a dia do povo que vive entre o mar e a Mata Atlântica. 

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A passagem da Rio-Santos é o grande marco que divide a história da região e todo meu trabalho de música foi muito dedicado às questões ambientais. Participo bastante dos movimentos culturais, da tradição dessa região, toda minha influencia está firmada junto aos cirandeiros e batuqueiros. 

A questão da cultura caiçara anda junto ao tema do meio ambiente. E eu tenho certeza e sempre digo que se ainda tem mata, é por que esse povo viveu aqui 300 anos e as matas ficaram preservadas então eu acho que hoje há equívocos em relação as unidades de conservação, que é tirar algumas famílias, esvaziar alguns lugares, é meio bobo.

Porque no fundo o homem que usa a natureza com essa sabedoria toda faz parte da preservação. Essa cultura acontece em cima desse território, com o homem da costeira, o homem que planta e pesca, isso é a cultura caiçara. O cara que tira uma cacheta e faz uma rabeca e toca sua música, faz sua festa. E essa integração da cultura caiçara com o mar e a Mata Atlântica nunca prejudicou, pelo contrário, deveria ser cada vez mais usada na questão da preservação ambiental.

A Educação é algo muito amplo e precisa estar em tudo. É o pilar. Precisamos voltar o olhar para nossa casa. É fundamental que a criança saiba o valor que tem o avô dele dançando aquela manifestação. E nesse sentido, a educação é o caminho perfeito, quando você fortalece o seu universo, a sua cultura, está apto a receber qualquer cultura que não vai ferir a sua. Agora quando sua cultura está enfraquecida, é preciso cuidado com isso porque vivemos em lugares de uma grande população flutuante por conta do turismo. Toda hora chega muita informação e se você não faz a manutenção nos seus hábitos, nos ritos e crenças, com certeza a cultura pode se perder.  A cultura é o resultado da convivência, se a gente não convive, não a geramos cultura.

Tem coisa que é particular, que é da sua região, que é da cara do seu povo, da alma do seu lugar. E isso deveria ser ensinado não como cultura geral, mas te ajudar a entender você e o seu entorno dentro desse corpo cultural brasileiro. Quando você tem essa noção, você se valoriza, valoriza os movimentos que há por perto, entende você quanto família, quanto bairro, quanto cidade e quanto país. Isso é identidade cultural.”

Pra ter jongo é preciso ter terra

O quilombo da fazenda é coordenado pelo senhor Zé Pedro. Ele guarda quase 80 anos de luta, resistências e sorrisos pairam nessa pessoa e contagia todos àqueles que chegam à comunidade quilombola do norte de Ubatuba. Uma casa de farinha com uma antiga roda d’água ainda em funcionamento para a fabricação da farinha de mandioca, uma linda construção de pau à pique para a venda do artesanato e muitas belezas naturais fazem parte dessa paisagem viva. A Fazenda é mais um reduto de cultura tradicional caiçara para conhecer e desbravar o lado pouco conhecido da cidade.

Zé Pedro é contador de histórias e não precisa muito para que ele com sua simpatia que transborda comece a falar sobre as coisas daquele lugar. E para quem quiser levar um pouco dessa rica história para casa, um livro feito com contos e relatos do quilombola pode ser adquirido no local.

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No último sábado e domingo, os primeiros dias do mês de agosto, ele tomou a iniciativa de organizar o Primeiro Festejo de Folclore da Fazenda. Com o intuito de celebrar o mês em que no Brasil comemoramos as tradições folclóricas, que diferente do que a escola ensina, vão muito além do saci-pererê e da mula sem cabeça. Alguns grupos de outros bairros de Ubatuba se apresentaram, teve comidas típicas e dança.

Nós fomos até lá exibir o documentário “Cambury, histórias e memórias”, feita na jornada do Projeto Garoupa em Ubatuba. Depois de assistir ao filme, ele veio me dizer que sua alegria era grande demais, por poder ver as pessoas da comunidade vizinha que não vê há tempos. Se emocionou e transpareceu ter gostado de verdade e aquele sorriso farto preencheu a alegria de estar lá naquele momento proporcionando essas sensações.

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Arte é resistência

Depois do filme crianças e jovens do grupo “Ô de casa” montaram os equipamentos e tocaram fandangos, cirandas e jongos. Levei minha saia na mala porque sabia que isso poderia acontecer e brinquei essas danças com eles, aprendendo e compartilhando. Um pequenino de 4 anos me segurou para seu par e a cada nova dança ele pegava minha mão para me mostrar como se fazia. A ciranda caiçara é diferente daquela pernambucana, mas o princípio da roda e a diversão são igualmente garantidas.

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Depois terminamos jongando com os pequenos que tocam, cantam e guardam consigo a força da nossa cultura. Me senti agraciada de dividir com eles a roda e viver um pouco do que eles têm feito na comunidade. Através da arte a resistência se manifesta e faz com que o povo quilombola lute por dignidade e pelo respeito das suas tradições que dependem diretamente do território, das águas e das matas.

O querido Delcio Bernanrdo da Cultuar, de Angra dos Reis me contou uma vez sobre o quanto o jongo é fundamental para garantir a dignidade das comunidades remanescentes de quilombo, deixo aqui seu relato cheio de sabedoria:

“Pra ter jongo precisa ter terra. Como se protege a terra? Ela não é mais tratada hoje em dia como era antigamente. A tomada de consciência do papel da terra para as comunidades tradicionais se dá através do processo da cultura e eu acredito que a terra seja o instrumento mais interessante para a prática cultural e a cultura o instrumento mais interessante para a garantia da terra. Uma coisa não vive sem a outra.”

Cultura popular brasileira sob o olhar folclórico do Yauaretê

O resgate e a promoção da cultura tradicional e da valorização da identidade indígena e africana em Bauru e região.

“Ninguém ouviu um soluçar de dor no canto do Brasil. Um lamento triste sempre ecoou desde que o índio guerreiro foi pro cativeiro e de lá cantou. Negro entoou um canto de revolta pelos ares no Quilombo dos Palmares onde se refugiou”. A música ‘Canto das três raças’, composta por Paulo César Pinheiro e Mauro Duarte, sucesso na voz de Clara Nunes, poetisa sobre o país multicultural formado historicamente através da confluência entre o índio, o negro africano e o europeu. A letra da canção faz referência ao processo inicial de miscigenação do Brasil, executado por meio da repressão dos valores, crenças e costumes dos povos nativos e, posteriormente, dos africanos trazidos como escravos do outro lado do oceano Atlântico.

Vanessa Cancian
Vanessa Cancian

Apesar da tamanha opressão, manifestações da cultura indígena e africana sobreviveram ao passar do tempo. Desde palavras no vocabulário, a comida, a música, passando por fatores que determinam a personalidade do brasileiro, como gosto pela dança e pela festa, pontuam alguns dos aspectos agregados através da mescla étnica. Reflexos apontados, sobretudo no que se conhece popularmente como folclore, exibe a vivacidade cultural indígena e africana espalhada por diversos rincões do território nacional, em constante necessidade de preservação.

Vanessa Cancian
Vanessa Cancian

Na cidade de Bauru, um instituto criado no final da década de noventa, com a finalidade inicial de acolher “culturalmente” pessoas vindas do Amazonas para fazer tratamentos no Hospital do Centrinho da USP, leva no nome o significado primordial de sua origem: Yauaretê. O nome remete ao povoado localizado no município amazonense de São Gabriel da Cachoeira, lugar onde nasceu a co-fundadora Sandra Pereira, em meio ao território indígena do Alto Rio Negro, imersa em um universo cultural totalmente distinto do existente no interior de São Paulo.

Tito Pereira, o idealizador do projeto, viu nas origens de sua esposa Sandra a possibilidade de reavivar na região a valorização das manifestações folclóricas e relacionadas à cultura tradicional brasileira. “Nossa ideia inicial era criar a ‘Casa Amazonense’ para aproximar os migrantes presentes na cidade de seus costumes, como a gastronomia, as festividades, o clima, optando-se por mostrar essa identidade através das danças, mitos, lendas etc. Mas, vimos que poderíamos realizar um trabalho que fosse além do Amazonas, passando por tudo que há de cultura afro-brasileira e principalmente resgatando os tão esquecidos valores indígenas”, explica o paulista apaixonado por folclore brasileiro.

No ano de 2005, o projeto foi oficializado como instituto cultural, desde então vem promovendo na cidade de Bauru e região trabalhos que divulgam o folclore brasileiro, através de eventos com apresentação de danças tradicionais, como o Boi-Bumbá de Parintins-AM, Quadrilha e Catira, também presentes no interior de São Paulo, juntamente à moda de viola.

Tudo aquilo que é visto com frequência pela sociedade como costumes um pouco ultrapassados para as gerações de agora, o instituto se mostra capaz de executar e fazer acontecer de maneira contemporânea, como encontros direcionados à “contação” de histórias, principalmente sobre lendas indígenas e mitos da sabedoria popular.  A organização de saraus de poesia e oficinas de artesanato também se encontra entre as prioridades dos projetos do casal Sandra e Tito.

“Trabalhamos pela preservação do patrimônio material e imaterial da cultura brasileira, principalmente fazendo pesquisas e acervo de objetos voltados para as questões do negro, do índio e das populações ribeirinhas”, conta Tito. Sobre a inspiração, ele afirma ter vindo após ter tomado conhecimento de que a população indígena ribeirinha de Yauaretê estava lutando em busca de reavivar o idioma e os costumes de seus antepassados, para que eles não se perdessem. “Na mesma hora pensei em trabalhar para que os nossos costumes e as nossas origens voltassem a ser motivo de estudo, de vivência, inspiração e valor para a região” afirmou com olhar ainda sonhador, de dever parcialmente cumprido.

Entre as principais realizações do instituto, desde sua fundação, está o Festival do Folclore, a Cavalgada de Tropeiros, a Festa Junina Comunitária da Comunidade Bento Cruz, o Sarau Poético “Ivone Francisco de Souza”, Oficina de resgate da tradição oral, o “Vozes da Lenda”, o Projeto “Culturando Bauru”, o Projeto Cultural de Proteção Ambiental (utilizando a figura do Saci), o Projeto de Revitalização da Cultura Caipira e, a cada dois anos, o Fórum Nacional Interdisciplinar Cultura-Folclore, em parceria com a USC.

O instituto foi contemplado no ano de 2010, pelo edital de “Pontos de Cultura”, do Ministério da Cultura, e desde então desenvolve o projeto “Identidade Cultural de Bauru e Região”, abrangendo aproximadamente 40 cidades. O trabalho realizado após esse reconhecimento, esclarece Tito, consiste em conhecer, identificar, registrar e estimular a formação de uma rede sociocultural na sua área de atuação, objetivando, através do levantamento de dados, o mapeamento da região para estabelecer uma rede sistematizada de trocas de experiências, informações e outros.

Muito além do Saci-Pererê

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“Folclore é tudo aquilo que estabelece a nossa identidade e, principalmente, o que valorizamos para que não se perca. Representa a normatização da cultura popular, transformando-a em tradição”, explica Antônio Walter Ribeiro Júnior, professor de antropologia da USC. De acordo com o especialista, a palavra tem seu significado relacionado às mais diversas formas de manifestação popular, como os saberes, os costumes, as tradições e tudo mais produzido e valorizado pelo povo e seus possíveis desdobramentos na sociedade.

Embora a palavra atualmente tenha caído não em desuso, mas sim em um uso incorreto e que diminui sua relevância, a proposta do Yauaretê vem na contra partida do senso comum, mostrando que o folclore de fato deve ser entendido e valorizado como algo abrangente e fundamental para o resgate da identidade e principalmente para a composição do que se conhece por cultura brasileira.

O violeiro e pesquisador da cultura paulista, Noel Andrade, define a diversidade cultural brasileira como algo inexplicável e único, “A gente vê na cara dos brasileiros que cada um veio de um canto diferente e eu acredito que nossa mistura proporciona mais riqueza ainda, tanto relacionada às pessoas quanto à cultura que se produz aqui”, aponta o músico. E ainda completa, “A gente não sabe se descendemos de índio ou de negros ou portugueses, por exemplo, mas chega uma hora em que a alma da gente pede.” Em sua opinião, a cultura e o folclore popular estão no que se escuta, na roupa que se veste, naquilo que se escreve, na alimentação e, principalmente, no momento em que isso tudo passa a fazer parte do dia-a-dia e da essência do ser brasileiro.

 

Viajando pelo tempero capixaba

          Giovanna Falchetto, estudante de jornalismo da Unesp é capixaba e isso significa que ela nasceu no Espírito Santo, estado brasileiro que faz parte da região sudeste, fazendo fronteira com o Rio de Janeiro, com Minas Gerais e ao norte com a Bahia. Pouco conhecido por nós, paulistas, esse local reserva belezas naturais, expressões e peculiaridades culturais  diversificadas que representam de forma intensa a cultura brasileira. Ela vai falar um pouco pra gente sobre sua terra, e sobre uma tradição culinária da região, trazendo informações interessantes do local, com uma receita de dar água na boca. 

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Aproveitando o clima, meu primeiro post será sobre minha terrinha, sou de Vitória- Espírito Santo. E por lá, nesta época de Páscoa temos uma tradição seguida religiosamente. Como o feriado é cristão e no Estado a maioria segue essa doutrina por conta da colonização e influências, as pessoas não costumam comer carne vermelha na semana santa.

A Torta capixaba foi criada pelos índios e adaptada pelos portugueses, quando estes chegaram ao Brasil, se tornou característica deste feriado por conta do, já citado, costume de não comer carne vermelha. Os nativos comiam uma mistura de frutos do mar e palmito. Como os portugueses já possuíam o hábito de comer frutos do mar, apenas incrementaram o prato, incluindo o marisco e o bacalhau.

A torta é uma mistura de siri, bacalhau, caranguejo, badejo ( um peixe típico destas águas), ostra, sururu, palmito, tomate e temperos à gosto.

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Ainda circulando pela gastronomia capixaba, é impossível deixar de citar a moqueca, patenteada e conhecida no Brasil inteiro pelo sabor ímpar e leveza do prato. A curiosidade envolvendo a Moqueca diz respeito ao meio de fazê-las.

As peneleiras de barro de Goiabeiras são, muitas vezes, mais lembradas do que a própria moqueca.

 

Sua origem vem, também, das tribos indígenas que ali habitavam. A matéria- prima para sua confecção é retirada dos manguezais por isso a maior produção das panelas fica em goiabeiras, bairro que comporta o maior manguezal urbano do mundo.

A produção é tão importante cultural e financeiramente para o Estado que foi criada a Associação das Paneleiras de Barro e hoje a produção não mais é feita nas casas das mulheres e sim na associação.

 Receita da Torta

Rendimento para 6 pessoas.

Ingredientes

  •  Cebola, alho, azeite doce, azeitona, limão, coentro, cebolinha verde, tomate a gosto;
  •   ½kg de palmito natural previamente cozido;
  •   200gr de siri desfiado e cozido;
  •   200gr de caranguejo desfiado e cozido;
  •   200gr de camarão cozido;
  •   200gr de ostra cozida;
  •   200gr de sururu cozido;
  •   200gr de badejo desfiado e cozido;
  •   500gr de bacalhau desfiado e cozido.

Observação: Para cozinhar esses ingredientes, fazem-se as moquecas de cada um e retira-se todo o caldo, deixando-os o mais seco possível.

Modo de Preparo

  •   Prepare um refogado com cebolas, alho, pimenta, azeite doce, azeitonas e limão.
  •   Leve-o ao fogo com o palmito natural e espere até desaparecer a água e ganhar consistência.
  •   Junte, depois de limpos, desfiados, cozidos e espremidos, os ingredientes acima, mexendo até evaporar a água. Retire para esfriar um pouco. Misture uma parte da espuma de 6 claras em neve com as gemas.
  •   Quando se adicionarem os temperos aos mariscos, deve-se colocar o bacalhau para enxugar e dar liga à massa.
  •   Cozinhe à parte 6 ovos, que servirão apenas para enfeite juntamente com azeitonas e rodelas de cebola.
  •   Coloque a massa em uma panela de barro e a leve ao forno, retirando-a quando a espuma estiver bem coradinha.

Espero ter mostrado um pouquinho da história e cultura do meu Estado e que vocês, leitores, tenham gostado.

Giovanna Falchetto

Pelos sabores brasileiros

Ao invés de irmos a Unesp para fazer uma aula sobre Gastronomia Brasileira, no dia 29 de outubro a minha casa se tornou o local onde o chefe Maurício de Faria preparou deliciosos pratos inspirados nos ingredientes mais tradicionais da culinária local explicando um pouco sobre cada um deles, e é claro fazendo com que todos se deliciassem com as receitas que ele preparou.

E para acompanhar, além da decoração verde e amarela, muito suco de caju e maracujá. Muitos deles nunca tinham experimentado nem um nem o outro.

O cardápio que o Maurício preparou pra gelera foi:

Entrada: Escondidinho de mandioca com carne-seca

Prato Principal: Peixe ao molho branco com banana da terra

Sobremesa: Pudim de Leite condensado

Pode ser mandioca, aipim , macaxeira, maniva, uaipi. A forma pela qual a  mandioca foi incorporada ao nosso dia-a-dia transmitida pelos povos originários fez com que ela se tornasse um ingrediente essencial da comida brasileira. Podendo ser adaptada aos mais diversos pratos. Passando pela gastronomia gourmet dos restaurantes mais renomados do país, e estando presente junto ao “feijão com arroz” de todo dia, na farofa, nos purês, na carne, com açúcar no café da manhã nordestino, no milagre da tapioca e em tantas outras coisas. Ela representa a criatividade do brasileiro na hora de preparar um prato, e mais do que isso é um sabor que agrada a todos, pois está em nossa genética indígena saboreá-la em suas diferentes formas.

Assim como a carne -seca, consumida em diversas partes do mundo, em algumas regiões brasileiras ela passou a fazer parte da culinária diária, como no Nordeste. E pra completar a mescla de sabores, o catupiry   (queijo cremoso que ganhou o nome da primeira marca) presente e adaptável a muitos pratos, deu um toque ainda mais especial ao escondidinho (que foi um sucesso logo de cara).

Muito típico nas regiões litorâneas do Paraná, de São Paulo e do Rio de Janeiro, o peixe com banana da terra servido como prato principal também surpreendeu a galera. Misturar o doce e o salgado, em texturas diferentes é uma das artes da nossa comida. Essa tradição caiçara como é chamada, ganhou o requinte feito pelo nosso chefe, onde o peixe estava sobreposto a banana e para dar um sabor especial, o molho branco. Claro que ele foi servido com arroz para acompanhar. Ficou demais!

O famoso e clássico pudim de leite condensado finalizou o cardápio do chefe. Prato preferido de muitos brasileiros, conta a lenda que a receita foi trazida pelos portugueses, e se adaptou muito bem ao gosto dos brasileiros tornando um prato típico e presente sempre nos almoços de família e em todos os lugares.

Obrigada Maurício, pelos pratos, pelo sorriso enquanto preparava tudo e por passar pra essas pessoas lindas, de diversos lugares do mundo, um pouco mais sobre nosso querido Brasil.

Coisas da nossa infância e o brigadeiro

Outro dia na aula, o Nando Araújo (muito popularmente conhecido como Mola) trouxe ao grupo uma temática muito interessante, que nunca tinha passado pela minha cabeça abordar: a infância no Brasil.

Eu no momento em que ele me sugeriu se poderia participar dando essa contribuição, achei incrível contar um pouco para tantas pessoas de países diferentes o que nós (a maioria que viveu os loucos anos 90) fazíamos, os desenhos animados, as brincadeiras de roda, jogar taco, na rua com a turma amarelinha e tantas outras coisas que preencheram aqueles anos invesquecíveis. (ainda que pareça nostalgico, não tenho certeza se a geração de agora vive tão intensamente esse tipo de coisa, talvez haja tecnologia em excesso, o que na minha opinião pode bloquear um pouco a criatividade e a vontade de se sujar no quintal, na rua ou em qualquer outro lugar).

O Mola, com seu jeito divertido e bem humorado apresentou vídeos e músicas daquela época. Desde a Xuxa (conhecida por todos os latino americanos presentes na sala), passando pela TV Colosso (que parece estar voltando! :D), o Castelo Rá-Tim-Bum e muito mais.

Mas, o que eu achei mais interessante da apresentação, foi ele lembrar de citar como são as festas de aniversário por aqui. Os salgadinho, o bexigão, os docinhos e é claro da tamanha importância do BRIGADEIRO!

Ai, outra surpresa: muitos ainda não tinham experimentado esse quitute fácl de preparar, que encanta a todos que comem, e essencial não apenas em festas de crianças, mas em qualquer momento em que uma sobremesa se faça necessária.

Por isso, quero contar pra vocês um pouco mais sobre a história do Brigadeiro (e segue abaixo uma receitinha, pra que todos possam aprender a fazer)

Acredita-se que ele tenha sido inventado na década de 20 ou 30, com a chegada do ingrediente principal: o leite condensado. Mas, foi perto do ano 1945 que ele se popularizou com o nome que se conhece hoje, por conta da campanha eleitoral do candidato Brigadeiro Eduardo Gomes disputou com Eurico Gaspar Dutra a presidência da República, sendo derrotado nas urnas.

Gomes tinha o slogan “Vote no Brigadeiro, que é bonito e é solteiro” ganhando o coração das moças na época, que preparavam negrinhos em casa e os vendiam nas ruas com o nome de brigadeiro, fazendo alusão e Gomes e destinando o dinheiro da venda ao fundo de campanha. E em pouco tempo o nome pegou e se espalhou pelo país.

Independente de como ele surgiu, o que importa mais é saber fazê-lo. Aliás, é fácil de prepar, e acompanha bem qualquer ocasião (principalmenete aniversários)

Essa é a receita pra fazer enroladinho – mas dá pra simplesmente  “comer de colher” como falamos aqui.

Ingredientes

1 lata de leite condensado
1/2 medida de lata de leite
1 colher (sopa) de manteiga
3 colheres (sopa) de chocolate em pó
2 xícaras (chá) de chocolate granulado
40 forminhas de brigadeiro

Modo de Preparo

1. Com um pincel, unte um prato com um pouco de manteiga. Reserve.

2. Separe as forminhas umas das outras com cuidado e disponha numa travessa pequena. Reserve.

3. Numa panela, misture o leite e o chocolate em pó. Leve ao fogo baixo e mexa bem, até dissolver o chocolate.

4. Junte o leite condensado, a manteiga e, quando ferver, calcule 15 minutos cozinhando, sem parar de mexer, ou até aparecer o fundo da panela. Retire a panela do fogo e transfira o brigadeiro para o prato untado. Deixe esfriar.

5. Numa tigelinha, coloque o chocolate granulado e deixe ao lado do prato com a massa de brigadeiro.

6. Espalhe um pouco de manteiga na palma das mãos e, com a ajuda de 1 colher de chá, faça bolinhas de 2,5 cm. Passe as bolinhas pela tigelinha com o chocolate granulado, envolvendo cada uma muito bem. Em seguida, coloque as bolinhas nas forminhas. Sirva a seguir.

Fonte: Panelinha- panelinha.ig.com.br/

Encontros fora da Unesp, as trocas inesquecíveis.

Desde o começo do semestre, agendamos vários encontros com todos os intercambistas.

Reuniões para cozinhar, as festas da universidade, e até participações dos estrangeiros em algumas aulas de espanhol que eu dou para um grupo da terceira idade de Bauru. Percebi que devagar, todos nós mergulhamos em um mar de diferentes culturas e sabores, sem falar dos saberes que aprendemos uns com os outros.

Nunca imaginei que provaria uma torta da Finlândia, nem que na Argentina também se comesse o Arroz Doce. Também experimentamos um prato chamado Papas Alemanas, feitas por um mexicano. E para beber, Oscar, o mexicano que estava sempre sorrindo nos trouxe uma tequila, ensinando os rituais que envolvem o momento de tomar a bebida. Do Brasil nós levamos sobremesas tradicionais, paçoquinha, pé-de-moleque e tapioca de côco com leite condensado. Muitos experimentaram esses doces pela primeira vez, e adoraram.

            Em um desses dias, fomos no Skinão, lugar obrigatório de se conhecer na cidade, onde todos puderam provar pela primeira vez o tradicional Bauru.

Eu tenho uma gratidão enorme à muitos desses estudantes, que se dispuseram a participar das aulas com a terceira idade. Desses momentos nasceu, ainda que rápida, uma amizade entre eles e os senhores e senhoras da UATI.

No primeiro momento, o Gerry, mexicano da região central do país esteve presente na UATI, contanto para todos sobre a cultura do seu país. Ele apresentou vídeos do ballet folclórico mexicano, e aclarou para todos o que é a diversidade e riqueza da cultura do México muito além da conhecida culinária.

A segunda participação foi do Javi, argentino de Córdoba que participou da nossa aula de degustação de vinho na Adega Garrafeira. Ele pode mostrar para todos presentes um pouco da música argentina e latino americana. Desde os clássicos tangos de Gardel, até as novas músicas populares do país, passando também por clássicos do grupo mexicano Maná, do uruguaio Jorge Drexler e muito mais.

Bastou esse dia para que todos os alunos da terceira idade pedissem a cada aula a presença de um desses jovens.

Carlos, estudante espanhol de engenharia também esteve presente em duas aulas, porque uma não foi suficiente, e a curiosidade de todos os alunos para saber mais sobre a Espanha, a crise, e o simples escutar do sotaque de alguém da Espanha fez com ele tivesse que voltar.

E aí não pararm de surgir convites para que a integração fosse ainda maior.

A linda dona Elza, nos levou para dentro de sua casa e ofereceu para todos os estudantes uma feijoada feita por ela mesmo. E, por incrível que pareça, já no final do semestre, havia muitos que ainda não tinham experimentado o prato mais famoso da culinária brasileia. Assim, o fizeram em grande estilo e com todo o capricho que uma avó faria para seus netos.

Também organizamos uma “Cena Mexicana” no restaurante Taco Cabana. A ideia inicial era apresentar aos alunos da aula de espanhol um pouco mais da culinária do México. E o resultado foi lindo. Oscar e Gerry, nossos dois representantes do país explicaram muito sobre a comida e também sobre algumas danças típicas. O bonito desse dia, foi que todos os intercambistas interagiram de algum modo com a terceira idade. A Heini da Finlândia, a Laura da Espanha, a Yendry da Costa Rica e é claro, os mexicanos.

     Por esse e por todos os outros motivos, eu só tenho a agradecer a vocês, pela experiência que proporcionaram para todas essas pessoas. E eu o mais importante que tenho a dizer é que eles se lembram de cada um de vocês com muito, MUITO carinho mesmo!

Mama África

Uma aula para nossa mãe África

Uma das bases da formação do povo, identidade e cultura brasileira é a matriz afriacana. E, é claro que em uma das aulas da oficina a gente trabalhou esse tema, junto a algo que deve ser uma das maiores heranças trazidas pelos navios negreiros que habita e transcende o espírito e a alma do brasileiro: a música.

A verdade é que muito além da música, assim como diz Darcy Ribeiro, a miscigenação com a cultura africana trouxe ao povo brasileiro um colorido diferente. E esse colorido está nas roupas, nos acessórios, na comida e principalmente na alegria da nossa gente.

 

Passamos pela comida com o leite-de-côco, o óleo de dendê, vatapá, acarajé, cocada, e muitas outras coisas, até o feijão de todo dia também são considerados influência africana presentes na culinária diária do brasileiro.

A história de como foi a escravidão, o tráfico de escravos, o número de negros trazidos de lá, e a triste condição em que eles viviam também foi abordado. A resistência manifestada através dos quilombos e da sobrevivência da cultura e dos costumes.Uma falsa abolição e a degradação social que os ex-escravos foram submetidos quando “libertos”.

O conhecimento e a sabedoria da cultura afriacana, que na impossibilidade de ser menifestada de forma explícita, tomou forma da crença cristã para sobreviver. E quando se tratou de treinar para saber se defender, a capoeira nasceu como uma “dança” aos olhos dos senhores de engenho e até os dias de hoje é praticada por brasileiros em todo o país e em muitos outras partes do mundo há brasileiros espalhados plantando essa cultura em outras terras.

Na aula, a participação do Du, um amigo baterista e percussionista deixou a aula mais dinâmica e animada. Ele nos trouxe instrumentos de percussão como o “shekere”, o chocalho, o agogô e até um pandeiro com o qual ele fez um samba pra gente no final.

Todo mundo pode tentar tocar os instrumentos, e conforme ele ia explicando, aprender um pouco dos ritmos brasileiros.

Terminamos a aula ouvindo algumas músicas que eu tinha escolhido pra mostrar pra eles: Cartola, Paulinho da Viola, Adoniran e Noel. E, a partir da ideia dos próprios alunos, todos tiveram que sambar (ou pelo menos tentar) ao som desses mestres da música brasileira.

Cartola

Talismã – Paulinho da Viola