Das palavras, a literatura brasileira

Em uma das aulas da oficina, eu comcei a falar sobre a literatura brasileira, assunto que eu só fui terminar em uma das últimas aulas do semestre. Claro que por motivos de forças maiores (nesse caso, temas e assuntos variados que foram surgindo) acabamos pulando e deixando o assunto mais pro final.

Nessa aula, pude ver que as escolas literárias que aprendemos na escola, representa a divisao de épocas da literatura não somente no Brasil, mas em diversas partes do mundo. Carlos, o estudante de engenharia de Sevilla (Espanha) me explicou que os nomes e as caracterísitcas das escolas são praticamente as mesmas por lá também.

Acredito que a diferença maior, com relação a literatura se dá nos temas que, com o passar do tempo, foram tomando mais a “cara do Brasil” em busca de se criar um literatura (ainda que cheia de influências) mais brasileira do que europeia.

Mas, como eu disse na aula, a exaltação do Brasil através da Literatura aconteceu principalmente duranta o Romantismo, e teve em Iracema de José de Alencar, um de seus maiores expoentes:

“Além, muito além daquela serra, que ainda azula no horizonte, nasceu Iracema.
Iracema, a virgem dos lábios de mel, que tinha os cabelos mais negros que a asa da graúna e mais longos que seu talhe de palmeira.
O favo da jati não era doce como seu sorriso; nem a baunilha recendia no bosque como seu hálito perfumado.
Mais rápida que a ema selvagem, a morena virgem corria o sertão e as matas do Ipu, onde campeava sua guerreira tribo, da grande nação tabajara. O pé grácil e nu, mal roçando, alisava apenas a verde pelúcia que vestia a terra com as primeiras águas.”

Passamos pela Canção do Exílio de Gonçalves Dias,

Poema Narrado – Canção do Exílio

e pelos tristes e verdadeiros poemas de Castro Alves, uma das primeiras vozes dos escravos no Brasil.

Chegando até o Realismo de Machado de Assis,a surpresa foi minha, de saber que alguns dos alunos já estavam com Dom Casmurro em mãos, viajando pelas palavras e ideias de um dos maiores gênios (se não o maior) da literatura brasileira.

E eu, sem conseguir a imparcialidade necessária para falar tanto do Dom Casmurro quando das Memórias Póstumas, eu exaltei, da forma que aprendi lendo esses livros, a grandiosidade de Machado na história desse país. Acredito que as vezes as palavras não precisam ser tão medidas, e esse é um caso onde sim, elas devem ser abertas a todos, as pessoas do mundo todo. O que eu quero mesmo é que todos saibam o que a literatura machadiana pode causar em seu leitor. Essa sensação de ler algo escrito há séculos, com a capacidade de compreender a realidade de hoje e de todos os tempos. O dom que ele tem de nos tranportar para o Rio de Janeiro daquela época, para os costumes e para aquelas tramas psicológicas que faz o leitor mergulhar em um emaranhado de sensações, refletindo sobre si mesmo e sobre o mundo.

Por isso, que eu termino aqui com o capítulo que me fez (talvez antes do tempo normal por conta da idade que eu tinha) ler Dom Casmurro. Sem compreender na época a dimensão da sua obra. Foi esse trecho que me despertou para um caminho sem volta, da literatura de Machado.

A inscrição

“Não soltamos as mãos, nem elas se deixaram cair de cansadas ou de esquecidas. Os olhos fitavam-se e desfitavam-se, e depois de vagarem ao perto, tornavam a meter-se uns pelos outros… Padre futuro, estava assim diante dela como de um altar, sendo uma das faces a Epístola e a outra o Evangelho. A boca podia ser o cálice, os lábios a patena. Faltava dizer a missa nova, por um latim que ninguém aprende, e é a língua católica dos homens. Não me tenhas por sacrílego, leitora minha devota; a limpeza da intenção lava o que puder haver menos curial no estilo. Estávamos ali com o céu em nós. As mãos, unindo os nervos, faziam das duas criaturas uma só, mas uma só criatura seráfica. Os olhos continuaram a dizer coisas infinitas, as palavras de boca é que nem tentavam sair, tornavam ao coração caladas como vinham…”