Comece o dia bem: visite uma escola ocupada

 

Ubatuba, 02 de dezembro de 2015. A escola estadual Aurelina, localizada no bairro da Estufa II em Ubatuba foi ocupada pelos alunos que se mobilizaram para fortalecer a luta dos estudantes em todo o estado de São Paulo. Como sabemos (não porque a grande mídia avisou, mas porque o movimento consistente é capaz de gritar mais alto que ela), no último mês os estudantes passaram a lutar para conter o fechamento de quase cem escolas estaduais. A ação que foi chamada pelo governador Geraldo Alckmin de “reorganização” vai superlotar salas de aulas já superlotadas e fazer com que o ensino torne-se ainda mais precário. Na contramão desse retrocesso, a força popular dos estudantes tem falado mais alto.

Hoje eu saí de casa e antes de qualquer coisa, passei por essa ocupação. Fui recebida aos sorrisos pelos alunos (afinal cheguei de bicicleta e não de camburão), pedi para entrar e eles chamaram a menina que está coordenando toda a ação. Fiz algumas perguntas porque faço parte de um grupo que quer ajudar na mobilização. Eles mostraram as salas que viraram quartos, uma que virou refeitório e o pátio com cartazes dividindo as equipes por setores com as atividades necessárias para manter o ambiente organizado.

A mesma coordenadora me contou que na noite anterior foi realizada uma assembleia, alguns pais participaram e poucos professores. Ganharam uma geladeira, micro-ondas e o apoio desses pais que entenderam que a causa é válida e só assim podemos pensar em transformar a realidade da educação sucateada do estado de São Paulo.

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Os meninos e meninas me disseram que precisam de aulas abertas e atividades que sejam propostas, estão abertos ao que vier e felizes com toda contribuição que possa fortalecer o movimento. Eu acredito que agora seja o momento de doação, de parar nosso tempo para fazer algo maior a esses jovens. Eles estão sedentos de saberes que não necessariamente estão nos livros e dentro desse exercício de democracia que estão promovendo, todos os esforços são bem-vindos.

Eu precisava compartilhar que saí da escola transbordando alegria, renovação e com vontade de levar todas as pessoas possíveis para esse lugar que, diferente do habitual, transformou-se em um espaço de debate, troca de conhecimento de maneira horizontal e carregados de jovens com capacidade de autonomia e mobilização.

Nenhum passo atrás, nenhum direito a menos! Quem tiver interesse em participar das ações da ocupação nos procure para fazer parte da programação. Todos os esforços somados serão bem acolhidos.

A cultura viva da Tietê que você ainda não conhece

Tietê é uma cidade pequena mas menos pacata do que parece. Nós estamos bem perto da capital e o suficiente para que ali alguns costumes e ideologias são mantidos de maneira conservadora pela sociedade tieteense. Nessa terra muitas vezes somos protegidos pelo sobrenome que ganhamos ao nascer, e ao respondedor “de que gente é”, muita coisa se consegue e algumas portas se abrem. Cercada pelo rio que a nomeia, esse pedaço de terra foi abençoado pelas tradições culturais ali nascidas.

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Nossa festa do Divino Espírito Santo tem quase 200 anos e em todo mês de dezembro a toda a vida em todo o mundo para celebrar um fé de uma promessa que foi concretizada e curou muitos da febre amarela. A viola caipira que se consagrou na poesia e na força de Cornélio Pires ainda ecoa em muitas casas em alguns eventos culturais da cidade. De lá também saiu Itamar Assumpção e toda uma preciosidade de seu ritmo e música. O doce de goiaba e os apelidos são outras peculiaridades que formam pouco a pouco uma identidade única que se mantém em meio ao avanço cosmopolita das influências das “cidades grandes”. Apesar de que eu acredite que não existe tamanho e sim nossa forma de enxergar e habitar o lugar em que vivemos fazendo dele ínfimo ou imenso, tudo isso é uma questão de perspectiva.

Para despedirmos do mês de setembro, há uma celebração que completou 147 anos, também típica dessa pequena cidade que eu chamo com carinho de minha, que posso ser de quem quiser amá-la. A festa em louvor à São Benedito, o santo negro e milagroso atraiu em mais uma edição do evento milhares de pessoas por uma cidade. Ainda há uma parte do publico não venha pela religiosidade, há na festa um rito tradicional fundamental para a nossa identidade cultural paulista: o batuque de umbigada. Mesmo tendo passado uma maior parte da vida (até hoje) em Tietê, apenas quando é uma coisa que você conhece, mais conheça uma especial da tradição até hoje guardada pela família do mestre Herculano.

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José Saramago em seu livro “O Conto da Ilha Desconhecida diz: ” Quero encontrar uma ilha desconhecida, quero saber quem sou eu quando nela é, não sabes, não é um sais de ti, não chegas a saber quem és “. Muitas vezes precisa Em todos os lugares para saber o que quer que seja para o nosso mercado e para o qual é o quê? preservar essa manifestação afro-brasileira e muito rara.

No caminho da reinvenção e da recriação das culturas chamadas de populares, semper é importante ver os jovens aprendendo, crianças se interessando e gente vinda de longe para ver o que é nosso. Ainda não há comentários sobre este produto. Mais informaçóes e comentários.

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O batuque de umbigada como vemos hoje nesse trio de cidades interioranas e carregadas pela cultura caipira tem origem na cultura bantu e o encontro de umbigos está relacionado à fertilidade que representa essa parte do corpo. Com modas originais que cantam e contam o cotidiano do povo negro que habitou a terra mandada pelos brancos, o batuque é dançado até as seis da manhã e a animação é garantida. Os tambores, a fogueira, a canja de galinha, o café e toda da atmosfera do lugar são elementos que mitificam os momentos de cada noite do sábado de São Benedito.

Todo ano a alegria se repete e sensação que me invade é de querer compartilhar com cada vez mais gente essa história que é de todos nós. Se pudesse colocaria todas as pessoas queridas naquele barracão para ver e viver comigo o batuque e energia transmitida por ele. Enquanto isso não é possível, deixo essas palavras de agradecimento por mais um ano de celebração da fé, da cultura e da tradição de Tietê. Agradeço também a Aniete Abreu, pessoa querida que fortalece o grupo com as crianças de alguns bairros da cidade, remando contra todas as marés do conservadorismo e colocando a cultura no lugar que deveria sempre ter estado: junto com a educação. Agradecimento especial aos companheiros das cidades de Capivari, Piracicaba e tantas outras que estiveram presente nessa e em outras noites de batuque. Queridos João Victor e Capela, vocês foram os primeiros nativos que dividiram comigo a sensação de indignação (por não ter vindo antes) e encantamento (já que nunca é tarde para aprender) ao ver e viver o quanto é importante fazer com que mais pessoas da nossa e de todas as gerações conhecer sobre nossa história e cultura. Muitos batuques virão e com a benção de São Benedito, iremos juntos levar essa mensagem para que mais pessoas saiam da escuridão e compartilhem da luz que é a nossa cultura popular brasileira.

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Viva São Benedito e viva o batuque de umbigada que perpetua até os dias de hoje na nossa querida cidade!

Fotos:

Flickr Prefeitura de Tietê / S P

Projeto No Terreiro do Tambú – Rio Claro / SP

Cultura popular brasileira sob o olhar folclórico do Yauaretê

O resgate e a promoção da cultura tradicional e da valorização da identidade indígena e africana em Bauru e região.

“Ninguém ouviu um soluçar de dor no canto do Brasil. Um lamento triste sempre ecoou desde que o índio guerreiro foi pro cativeiro e de lá cantou. Negro entoou um canto de revolta pelos ares no Quilombo dos Palmares onde se refugiou”. A música ‘Canto das três raças’, composta por Paulo César Pinheiro e Mauro Duarte, sucesso na voz de Clara Nunes, poetisa sobre o país multicultural formado historicamente através da confluência entre o índio, o negro africano e o europeu. A letra da canção faz referência ao processo inicial de miscigenação do Brasil, executado por meio da repressão dos valores, crenças e costumes dos povos nativos e, posteriormente, dos africanos trazidos como escravos do outro lado do oceano Atlântico.

Vanessa Cancian
Vanessa Cancian

Apesar da tamanha opressão, manifestações da cultura indígena e africana sobreviveram ao passar do tempo. Desde palavras no vocabulário, a comida, a música, passando por fatores que determinam a personalidade do brasileiro, como gosto pela dança e pela festa, pontuam alguns dos aspectos agregados através da mescla étnica. Reflexos apontados, sobretudo no que se conhece popularmente como folclore, exibe a vivacidade cultural indígena e africana espalhada por diversos rincões do território nacional, em constante necessidade de preservação.

Vanessa Cancian
Vanessa Cancian

Na cidade de Bauru, um instituto criado no final da década de noventa, com a finalidade inicial de acolher “culturalmente” pessoas vindas do Amazonas para fazer tratamentos no Hospital do Centrinho da USP, leva no nome o significado primordial de sua origem: Yauaretê. O nome remete ao povoado localizado no município amazonense de São Gabriel da Cachoeira, lugar onde nasceu a co-fundadora Sandra Pereira, em meio ao território indígena do Alto Rio Negro, imersa em um universo cultural totalmente distinto do existente no interior de São Paulo.

Tito Pereira, o idealizador do projeto, viu nas origens de sua esposa Sandra a possibilidade de reavivar na região a valorização das manifestações folclóricas e relacionadas à cultura tradicional brasileira. “Nossa ideia inicial era criar a ‘Casa Amazonense’ para aproximar os migrantes presentes na cidade de seus costumes, como a gastronomia, as festividades, o clima, optando-se por mostrar essa identidade através das danças, mitos, lendas etc. Mas, vimos que poderíamos realizar um trabalho que fosse além do Amazonas, passando por tudo que há de cultura afro-brasileira e principalmente resgatando os tão esquecidos valores indígenas”, explica o paulista apaixonado por folclore brasileiro.

No ano de 2005, o projeto foi oficializado como instituto cultural, desde então vem promovendo na cidade de Bauru e região trabalhos que divulgam o folclore brasileiro, através de eventos com apresentação de danças tradicionais, como o Boi-Bumbá de Parintins-AM, Quadrilha e Catira, também presentes no interior de São Paulo, juntamente à moda de viola.

Tudo aquilo que é visto com frequência pela sociedade como costumes um pouco ultrapassados para as gerações de agora, o instituto se mostra capaz de executar e fazer acontecer de maneira contemporânea, como encontros direcionados à “contação” de histórias, principalmente sobre lendas indígenas e mitos da sabedoria popular.  A organização de saraus de poesia e oficinas de artesanato também se encontra entre as prioridades dos projetos do casal Sandra e Tito.

“Trabalhamos pela preservação do patrimônio material e imaterial da cultura brasileira, principalmente fazendo pesquisas e acervo de objetos voltados para as questões do negro, do índio e das populações ribeirinhas”, conta Tito. Sobre a inspiração, ele afirma ter vindo após ter tomado conhecimento de que a população indígena ribeirinha de Yauaretê estava lutando em busca de reavivar o idioma e os costumes de seus antepassados, para que eles não se perdessem. “Na mesma hora pensei em trabalhar para que os nossos costumes e as nossas origens voltassem a ser motivo de estudo, de vivência, inspiração e valor para a região” afirmou com olhar ainda sonhador, de dever parcialmente cumprido.

Entre as principais realizações do instituto, desde sua fundação, está o Festival do Folclore, a Cavalgada de Tropeiros, a Festa Junina Comunitária da Comunidade Bento Cruz, o Sarau Poético “Ivone Francisco de Souza”, Oficina de resgate da tradição oral, o “Vozes da Lenda”, o Projeto “Culturando Bauru”, o Projeto Cultural de Proteção Ambiental (utilizando a figura do Saci), o Projeto de Revitalização da Cultura Caipira e, a cada dois anos, o Fórum Nacional Interdisciplinar Cultura-Folclore, em parceria com a USC.

O instituto foi contemplado no ano de 2010, pelo edital de “Pontos de Cultura”, do Ministério da Cultura, e desde então desenvolve o projeto “Identidade Cultural de Bauru e Região”, abrangendo aproximadamente 40 cidades. O trabalho realizado após esse reconhecimento, esclarece Tito, consiste em conhecer, identificar, registrar e estimular a formação de uma rede sociocultural na sua área de atuação, objetivando, através do levantamento de dados, o mapeamento da região para estabelecer uma rede sistematizada de trocas de experiências, informações e outros.

Muito além do Saci-Pererê

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“Folclore é tudo aquilo que estabelece a nossa identidade e, principalmente, o que valorizamos para que não se perca. Representa a normatização da cultura popular, transformando-a em tradição”, explica Antônio Walter Ribeiro Júnior, professor de antropologia da USC. De acordo com o especialista, a palavra tem seu significado relacionado às mais diversas formas de manifestação popular, como os saberes, os costumes, as tradições e tudo mais produzido e valorizado pelo povo e seus possíveis desdobramentos na sociedade.

Embora a palavra atualmente tenha caído não em desuso, mas sim em um uso incorreto e que diminui sua relevância, a proposta do Yauaretê vem na contra partida do senso comum, mostrando que o folclore de fato deve ser entendido e valorizado como algo abrangente e fundamental para o resgate da identidade e principalmente para a composição do que se conhece por cultura brasileira.

O violeiro e pesquisador da cultura paulista, Noel Andrade, define a diversidade cultural brasileira como algo inexplicável e único, “A gente vê na cara dos brasileiros que cada um veio de um canto diferente e eu acredito que nossa mistura proporciona mais riqueza ainda, tanto relacionada às pessoas quanto à cultura que se produz aqui”, aponta o músico. E ainda completa, “A gente não sabe se descendemos de índio ou de negros ou portugueses, por exemplo, mas chega uma hora em que a alma da gente pede.” Em sua opinião, a cultura e o folclore popular estão no que se escuta, na roupa que se veste, naquilo que se escreve, na alimentação e, principalmente, no momento em que isso tudo passa a fazer parte do dia-a-dia e da essência do ser brasileiro.

 

Percepções do Brasil e suas cidades – Sob o olhar de Javier Bernardini

Agora, foia vez do Javi (Javier Alejandro Bernardini) aluno de Arquitetura que passou mais de dez meses morando no Brasil, falar um pouco sobre as suas percepções com relação às cidades brasileiras. Mais do que isso, ele consegue captar a essência das nossas cidades através dos edifícios, monumentos, parques, praças, praias e paisagens. Eu deixei algumas “diferenças” gramaticais, para dar um ar mais pessoal ao texto que ele escreveu. Assim, todos podem perceber também as peculiaridades da mescla que carinhosa (e até instintivamente) fazemos entre português-espanhol (muito conhecido como portunhol)

Javi

Diversidade. Heterogeneidade. Mistura. Amalgama. Crisol. Qualquer uma dessas palavras pode utilizar-se para definir Brasil, sua sociedade e suas cidades. Tomar noção do tamanho que tem esse país tropical só é possível recorrendo-o. Assim, é possível conhecer cidades tão diferentes como Rio de Janeiro e São Paulo; Brasília e Curitiba; Belo Horizonte e Ouro Preto.

Em geral, nos centros das cidades, sejam cidades pequenas como Altinópolis no interior de São Paulo ou grandes e internacionalmente conhecidas como Rio de Janeiro, as cores se expressam livremente. Lojas com muros vermelhos, azuis, verdes, amarelos e laranjas convivem e até ficam no mesmo quarteirão.  É interessante a liberdade para conceber as construções da cidade, sem regras restritivas (exceto as construtivas) e sem prejuízos. Mas ¿Cadê a homogeneidade e coerência de linguagem? Aqui não tem, é só diversidade, reflexo da sociedade.

Brasília tentou negar essa realidade brasileira criando uma cidade totalmente planejada e com uma imagem totalizante. ¿Resultado? Fracasso do modelo urbano sem poder cumprir o principal objetivo utópico do Plano Piloto de Lucio Costa: mudar a realidade política, social e econômica do Brasil, só através de um modelo urbanístico e arquitetônico moderno e revolucionário (ignorando todo tipo de estudo sociológico).

Brasília

Uma das cidades “menos brasileiras” que conheci foi Ouro Preto. Seus regulamentos impedem construir com total liberdade, devendo respeitar a linguagem barroca que tanta beleza lhe da ao centro histórico. Assim, a unidade na percepção da cidade se percebe facilmente: paradoxalmente, por ser uma cidade criada espontaneamente pela presença de ouro e a ambição sem limites dos portugueses que não tinham como objetivo fazer uma cidade bonita e arrumadinha do jeito que ficou. Igualmente, no mesmo tempo é uma das cidades mais brasileiras, porque reflete fielmente o estilo de uma época em um momento histórico muito importante no Brasil.

Ouro Preto

Na reserva de Inothim, no Estado de Minas Gerais, também senti que não estava no Brasil, ao ser um espaço restringido para uma elite (negando a realidade brasileira) e tendo um nível de manutenção incrível. Mas no mesmo tempo, tem a maior variedade de palmeiras no mundo. ¡É Brasil!

Palmeiras

Rio de Janeiro é o exemplo mais maravilhoso do convívio perfeito entre construção e natureza. Simbioses total.
Mas o plano do chão, também é desenhado no Brasil. Depois do reconhecimento das calçadas de Copacabana feitas pelo grande paisagista Burle Marx, a perspectiva dos pedestres ao recorrer a cidade é considerada de resultados satisfatórios, embora infelizmente não seja tratada integralmente.

Cidade Maravilhosa

Por outro lado, curtir um parque deste paisagista pode ser uma experiência muito brasileira: vegetação nativa, contraste de cores, beleza natural e curvas- tão difundidas por o reconhecido arquiteto Oscar Niemeyer e justificadas por ele mesmo ao ser o reflexo das paisagens e mulheres de Rio de Janeiro. Por essa grandiosidade da sua obra é que temos parques dele na cidade carioca, Curitiba, Brasília, o emblemático Parque Ibirapuera em São Paulo, e em muitas cidades mais.

Do mesmo modo, admirar um mural de Cândido Portinari pode te ensinar muito do Brasil, desde a importância de São Francisco de Assis na realidade colonial até quem foi Tiradentes. É tão importante como os famosos “muralistas” mexicanos Diego Rivera, Siqueiros e Orozco na realidade do país asteca. Ele foi quem consagrou a “pastilhera” (pastilha) como elemento decorativo fundamental na arquitetura brasileira moderna. E provavelmente são uma não feliz consequência disso os pequenos bares céntricos e de bairro totalmente revestidos de “pastilheras”, preferindo uma rápida higienização do local ao invés de uma agradável sensação para os usuários.

Cândido Portinari

Mas então, ¿Que imagem eu tenho do Brasil?¿A modernidade de São Paulo e suas rodovias e prédios de primer mundo?¿A agradável escala humana e o pitoresquíssimo Ouro Preto?¿As paisagens maravilhosas do Rio de Janeiro e suas belas praias?¿O avançado transporte público e as políticas ambientais de Curitiba?¿A bela arquitetura moderna de Brasília?¿Ou a cracolandia em São Paulo?¿Ou as favelas e cortiços de Rio de Janeiro?¿Ou a nível de vida nas periferias das cidades?¿Ou a desigualdade social “siempre” presente?

Só uma mistura de todo isso. Uma grande mistura com 200.000.000 de motivos para explicar-lá.45147_10151113616446146_1793098198_n

Mama África

Uma aula para nossa mãe África

Uma das bases da formação do povo, identidade e cultura brasileira é a matriz afriacana. E, é claro que em uma das aulas da oficina a gente trabalhou esse tema, junto a algo que deve ser uma das maiores heranças trazidas pelos navios negreiros que habita e transcende o espírito e a alma do brasileiro: a música.

A verdade é que muito além da música, assim como diz Darcy Ribeiro, a miscigenação com a cultura africana trouxe ao povo brasileiro um colorido diferente. E esse colorido está nas roupas, nos acessórios, na comida e principalmente na alegria da nossa gente.

 

Passamos pela comida com o leite-de-côco, o óleo de dendê, vatapá, acarajé, cocada, e muitas outras coisas, até o feijão de todo dia também são considerados influência africana presentes na culinária diária do brasileiro.

A história de como foi a escravidão, o tráfico de escravos, o número de negros trazidos de lá, e a triste condição em que eles viviam também foi abordado. A resistência manifestada através dos quilombos e da sobrevivência da cultura e dos costumes.Uma falsa abolição e a degradação social que os ex-escravos foram submetidos quando “libertos”.

O conhecimento e a sabedoria da cultura afriacana, que na impossibilidade de ser menifestada de forma explícita, tomou forma da crença cristã para sobreviver. E quando se tratou de treinar para saber se defender, a capoeira nasceu como uma “dança” aos olhos dos senhores de engenho e até os dias de hoje é praticada por brasileiros em todo o país e em muitos outras partes do mundo há brasileiros espalhados plantando essa cultura em outras terras.

Na aula, a participação do Du, um amigo baterista e percussionista deixou a aula mais dinâmica e animada. Ele nos trouxe instrumentos de percussão como o “shekere”, o chocalho, o agogô e até um pandeiro com o qual ele fez um samba pra gente no final.

Todo mundo pode tentar tocar os instrumentos, e conforme ele ia explicando, aprender um pouco dos ritmos brasileiros.

Terminamos a aula ouvindo algumas músicas que eu tinha escolhido pra mostrar pra eles: Cartola, Paulinho da Viola, Adoniran e Noel. E, a partir da ideia dos próprios alunos, todos tiveram que sambar (ou pelo menos tentar) ao som desses mestres da música brasileira.

Cartola

Talismã – Paulinho da Viola